dezembro 27, 2005

Intuição, Evolução e o Pensamento Circular


Comece reparar quantas vezes ao dia você faz suposições sobre o que passa na mente de alguém. Suposições como: “fulano está bravo comigo”, ou “minha mãe não gosta disso...”. Na maioria das vezes uma pessoa não precisa nos contar o que ela está pensando, nós simplesmente conseguimos captar o que passa em sua mente através de expressões faciais, gestos ou mesmo pela de convivência. A nova geração de psicólogos dá a isso o nome de “Teoria da Mente”. Não se trata de uma teoria científica, mas de uma habilidade presente em todos os seres humanos normais e que nada mais é do que uma psicologia intuitiva, que os nossos cérebros se utilizam para aprender sobre o comportamento das pessoas. O sucesso dos “reality shows” pode ser atribuído a nossa avidez por executar o nosso programa mental de “Teoria da Mente”.
Da mesma forma que possuímos uma psicologia intuitiva, temos também programas mentais para matemática, física, biologia e até mesmo para engenharia. Este último programa nos ajuda a entender os objetos que nos circundam. Imaginem o que teria acontecido quando os nossos antepassados inventaram a roda. Ninguém, sem uma engenharia intuitiva, reconheceria aquele objeto como uma roda, que foi feita por alguém, para facilitar a movimentação de cargas etc, e teriam que reinventá-la a cada necessidade. O nosso cérebro depende dessa engenharia intuitiva para que toda vez que nos depararmos com um determinado objeto, tenhamos condição de entender que alguém o fez e, principalmente, para que ele serve.
Além de ávidos psicólogos intuitivos, somos também ávidos engenheiros intuitivos. Temos uma inclinação natural a atribuir utilidades e autoria para todos os objetos e também para seres vivos. Mas, assim como nem sempre nossa psicologia intuitiva está correta, nossa engenharia intuitiva também tem falhas.
Até 1858 a biologia oficial estava de acordo com a engenharia intuitiva. Foi então que dois naturalistas ingleses (Alfred Wallace e Charles Darwin) fizeram uma comunicação conjunta de uma teoria que mudaria todo o pensamento científico. A teoria da evolução através da seleção natural introduziu um conceito revolucionário e que vai de encontro à nossa engenharia intuitiva. O conceito de projeto-sem-projetista propiciou o desenvolvimento (laico) da biologia. Não era mais necessário evocar deuses ou a metafísica para explicar os processos biológicos. A seleção natural se processa gradualmente sobre pequenas diferenças genéticas que aparecem ao acaso na população.
Recentemente, alguns biólogos estão colocando em dúvida o poder criativo da seleção natural através de um movimento chamado Design Inteligente (DI), tornando necessária intervenções divinas nos processos biológicos. Em períodos pré-darwinistas esse pensamento era muito freqüente, até mesmo pela ausência de explicação alternativa. Entretanto, este movimento hoje está restrito a uma minoria e vem sendo muito criticado pela comunidade científica por questões de cunho filosófico. Explicar a existência de Deus pela existência de Deus é pensamento circular. E como dizia o Zequinha, personagem do Castelo Rá-Tim-Bum: “Por que sim não é resposta!”

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